“O vento destruirá o ninho” – Pablo Fidalgo Lareo

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O vento destruirá o ninho
ao que demos forma com os nossos corpos.
Cantei sem cessar
e só agora reconheço a minha voz.
A minha ação era introduzir uma ave estranha no parque
e ver como atua a história
e me atraiçoa.

Construímos o ninho
só pelo prazer de marcar o mundo
e resistir outro ano, outra canção
sem fazer uma pausa para respirar.

A ave sobrevive às suas contradições
rende-se diante de ti e reconhece
que és exatamente aquilo que procurava
todos os séculos desde o alto.

O ninho protege-me
e o calor transforma-se em febre
e vejo o que não existe
até que caio em picado
e a água é a mais bela alucinação.

Isso sempre foi o amor para mim:
qualquer estranha forma de mostrar desacordo.

Pablo Fidalgo Lareo, La retirada (Ártese quien pueda ediciones, 2014)
Foto: Vítor Dias

 

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